O Burnout é uma síndrome caracterizada por uma tríade específica de experiências emocionais: exaustão, sentida como a falta de capacidade física e psicológica para enfrentar o dia a dia; despersonalização e/ou cinismo, vivência marcada pelo sentimento de distanciamento do próprio eu e da própria realidade vivida, podendo cursar, no caso do cinismo, com os sentimentos de dissimulação, indiferença e desvalorização do contexto, incluindo todos os seus elementos físicos e sociais; baixo sentimento de realização ou eficácia pessoal, experiência subjetiva assinalada como a falta de capacidade para alcançar objetivos e responder aos desafios.
A Síndrome de Burnout foi descrita por Freudenberger e Malasch nos anos 70, tendo sido identificada em profissionais que tinham por missão o cuidado e a atenção a terceiros. Contudo, as investigações têm demonstrado que o Burnout pode acometer profissionais de diferentes campos de atuação, não só aqueles que têm por desafio ocupacional o cuidado e a proteção de outros.
O Burnout é uma síndrome que resulta do desgaste físico e psicológico em contexto de trabalho, seja ele qual for. É uma condição de mal-estar emocional fruto do excesso de exigências e da perceção de fragilidade e precariedade em termos de recursos, tanto internos quanto externos.
Os recursos externos são todos os elementos presentes no dia a dia do trabalho que facilitam o desempenho e a satisfação profissional, desde às condições em termos da infraestrutura organizacional, incluindo o acesso aos materiais adequados para a realização do trabalho, à qualidade das relações no contexto laboral, entre colegas, equipas, líderes e subordinados.
Os recursos internos, por sua vez, dizem respeito às características da pessoa que propiciam um melhor enfrentamento do quotidiano laboral. Entre elas, destacam-se os níveis de resiliência, otimismo e bem-estar pessoal.
A Síndrome de Burnout pode ser uma das consequências dos níveis elevados de stress, ou seja, o resultado da experiência subjetiva de desequilíbrio entre exigências e recursos.
Os primeiros sinais do stress podem ser identificados em termos comportamental, emocional e/ou cognitivo. Destacam-se os seguintes indicadores: a nível emocional, irritabilidade, ansiedade, mau humor, isolamento, cansaço, dificuldades com o sono, problemas no relacionamento interpessoal; a nível cognitivo, problemas na capacidade de concentração e/ou memória e na assimilação de novas aprendizagens, pensamento pessimista e dificuldade em termos de resolução de problemas; a nível comportamental, aquisição de hábitos nervosos, consumo de álcool e outras substâncias para sentir-se com maior capacidade para gerir os problemas, atitude violenta ou agressiva, dificuldades com a pontualidade, comportamento desastrado ou negligente.
A exposição contínua aos Riscos Psicossociais no trabalho, nomeadamente as exigências excessivas, a falta de controlo pessoal sobre a maneira como o trabalho é desempenhado, o apoio inadequado, os maus relacionamentos, o conflito de papéis e/ou a falta de transparência sobre os mesmos, as dificuldades na gestão das mudanças, relacionadas com a falta de clareza na transmissão da informação e a ausência de envolvimento no processo, e a violência por parte de terceiros, seja ela verbal ou física, podem aumentar as chances de adoecimento mental, isto é, podem levar à condição da Síndrome de Burnout. Todos estes fatores podem gerar a sensação de esgotamento dos recursos internos da pessoa e é este sentimento de esgotamento que está na raiz da experiência do Burnout.
Aos Riscos Psicossociais no trabalho somam-se os eventos e desafios que fazem parte, de maneira geral, do ciclo de vida das pessoas: dificuldades financeiras, doenças, perdas, nascimento de filhos, casamento, etc… Todos estes eventos demandam o uso de recursos.
Segundo a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, cabe a todos os empregadores garantirem condições laborais facilitadoras da saúde e do bem-estar no trabalho, assim como é dever dos colaboradores seguirem as prescrições recomendadas neste âmbito pela organização.
A Psicologia da Saúde Ocupacional dedica-se justamente ao estudo, avaliação e intervenção no âmbito da saúde psicológica do trabalhador, tendo por objetivo a promoção do bem-estar no trabalho e também a prevenção do stress e do mal-estar laboral, consequentemente a prevenção da Síndrome de Burnout, conhecida popularmente como a Síndrome do esgotamento.
Para prevenir esta condição é preciso ter atenção a todos os elementos mencionados e intervir sempre que possível nos mesmos, minimizando os seus efeitos nocivos e fortalecendo os recursos tanto a nível pessoal como organizacional.
Para além disso, é fundamental reconhecer os sinais de alerta do sofrimento emocional e buscar ajuda especializada sempre que se revele necessário.
Por fim, a manutenção de um estilo de vida saudável, caracterizado pela boa alimentação, pela prática regular de atividade física, pela ingestão suficiente de água potável, pelo bom sono e por experiências habituais de lazer, tudo isso aliado à vivência de relações positivas, é sempre um fator protetor da saúde e do bem-estar mental.
Marcela Almeida Alves
Psicóloga, Coach & Formadora
Artigo publicado também em:
https://issuu.com/progredir/docs/revista_progredir_090/34